10 Temas Estruturantes Direito Tributário

Visão Empresarial Estratégica e Técnica

5/8/20245 min read

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10 Temas Estruturantes Direito Tributário

Visão Empresarial Estratégica e Técnica

1. Regime Tributário: Análise Multidimensional

Fundamentos:

  • Critérios de Escolha:

    Simples Nacional: Adequação às limitações de faturamento (até R$ 4,8 milhões/ano), exclusão de atividades vedadas (ex: importação de combustíveis), e análise da carga tributária agregada (DAS vs. tributação isolada).

    Lucro Presumido: Presunções de margem de lucro por atividade (ex: 8% para comércio, 32% para serviços), com atenção à vedação para setores específicos (ex: bancos).

    Lucro Real: Obrigatoriedade para empresas com faturamento acima de R$ 78 milhões/ano ou atividades de alto risco fiscal (ex: factoring).

Riscos:

  • Desenquadramento do Simples Nacional: Retroação tributária com cobrança de diferenças de impostos + juros Selic + 75% de multa (Lei Complementar 123/2006, art. 18).

  • Excesso de Parcelamento (Refis): Efeitos na prescrição intercorrente (CTN, art. 174) e risco de inscrição em dívida ativa mesmo durante acordos.

Jurisprudência Relevante:

  • STJ: Prevalência do regime optado no início do ano-calendário, salvo desenquadramento por faturamento (REsp 1.783.231/SP).

2. Benefícios Fiscais: Conformidade e Contingenciamento

Tipologia dos Incentivos:

  • Regionais:

    Suframa (Lei 8.387/1991): Redução de 75% do IPI e isenção de impostos estaduais para operações na Zona Franca de Manaus, com condicionantes à comprovação de investimentos em P&D.

    Sudene (Lei 14.276/2021): Redução de 75% do IRPJ para empresas instaladas no Nordeste, vinculada à geração de empregos formais.

  • Setoriais:

    Lei do Bem (Lei 11.196/2005): Dedução de 100% do IRPJ/CSLL em despesas com inovação tecnológica, sujeita à comprovação via laudo da ANPEI.

Controle pela Administração Tributária:

  • *Cláusulas de standstill: Benefícios concedidos por estados podem ser revogados sob alegação de guerra fiscal (ADI 2.588/DF, STF), exigindo análise de sustentabilidade jurídica.

  • Limitações da Lei 14.596/2023 (Reforma Tributária): Restrições a novos incentivos sem aprovação do CONFAZ.

3. Tributação das Operações: Complexidade dos Fatos Geradores

ICMS (Imposto sobre Circulação):

  • Diferencial de Alíquotas (DIFAL): Regras para operações interestaduais (LC 190/2022), com retenção pelo destinatário em compras de não contribuintes.

  • Não Cumulatividade: Créditos vinculados à escrituração no SPED Fiscal (EFD-ICMS/IPI) e vedação de aproveitamento em operações isentas (CTN, art. 156, §2º).

ISS (Imposto sobre Serviços):

  • Lista de Serviços (LC 116/2003): Controvérsias sobre enquadramento de serviços digitais (ex: streaming como "transmissão de sons e imagens" vs. "licenciamento de software").

  • Local da Incidência: Regra do local do estabeleimento prestador, exceto para serviços de construção civil (local da obra).

PIS/COFINS:

  • Regime Cumulativo vs. Não Cumulativo: Impacto sobre o custo operacional (ex: 3,65% para cumulativo x 9,25% para não cumulativo, com créditos).

  • Exclusões da Base de Cálculo: Receitas de exportação e juros sobre capital próprio (STF – RE 240.785/PR).

4. Substituição Tributária (ICMS-ST): Cadeias de Valor e Riscos

Mecanismos Técnicos:

  • Margem de Valor Agregado (MVA): Ajustes para evitar bitributação, com parâmetros definidos por Convênios ICMS (ex: Convênio 142/2018 para eletrônicos).

  • Retenção Antecipada: Dever do substituto tributário (ex: indústria) de recolher ICMS devido pelo varejo, com repercussão no preço final (Lei Kandir, art. 13).

Contencioso Comum:

  • Divergência na Base de Cálculo: Autuações por uso de MVA inadequada (ex: SEFAZ/SP x indústrias farmacêuticas – TARESP 205.00.123456-7).

  • Bitributação: Possibilidade de repetição de indébito se o substituto e substituído recolherem o mesmo imposto (RE 656.726/SC, STJ).

5. Obrigações Acessórias: SPED e Compliance Digital

Sistemas Integrados:

  • EFD-Contribuições: Escrituração detalhada de PIS/COFINS, com validação cruzada pela Receita Federal (ex: divergências entre blocos 0 e C).

  • EFD-ICMS/IPI: Registro de apuração mensal, incluindo ajustes a débito/crédito (GIA eletrônica).

Penalidades:

  • Multa por Omissão: 1% ao mês-calendário sobre o valor do tributo (Lei 10.522/2002), limitada a 20% do valor devido.

  • Indisponibilidade de Bens: Bloqueio de CNPJ por irregularidades no eSocial (IN RFB 2.181/2021).

6. Créditos Tributários: Presunção de Legitimidade e Controle

Requisitos para Aproveitamento:

  • Documentação Hábil: Nota fiscal com CFOP adequado (ex: 5.101 para compras industriais) e registro no SPED.

  • Nexo Causal: Vinculação direta do crédito à atividade tributada (STF – Tema 1.007).

Limitações:

  • Créditos Fictícios: Vedação de aproveitamento em operações fraudulentas (Lei 8.137/1990, art. 2º).

  • Prescrição Quinquenal: Prazo para requerer restituição (CTN, art. 170).

7. Responsabilidade Tributária: Desconsideração da Personalidade Jurídica

Hipóteses de Responsabilização:

  • Art. 135, III, CTN: Sócios respondem por dívidas da empresa em caso de confusão patrimonial ou desvio de finalidade (ex: saques não contabilizados).

  • Obrigações de Recolher: IRRF e INSS retidos na fonte geram responsabilidade solidária do contador e administradores (Súmula 435, STJ).

Estratégias de Mitigação:

  • Governança Corporativa: Atas de diretoria documentando decisões fiscais e segregação de patrimônio.

8. Defesa Administrativa e Judicial: Estratégias Contenciosas

Fases do Contencioso:

  • Administrativo:

    • Recurso Voluntário: Prazo de 30 dias após notificação (CARF).

    • *Tese da Suspensão da Exigibilidade: Depósito de 30% do débito ou garantia (Lei 13.988/2020).

  • Judicial:

    • Ação Anulatória: Prazo decadencial de 5 anos (CTN, art. 173).

    • Mandado de Segurança: Contra exigências manifestamente ilegais (ex: cobrança de tributo inexistente).

Teses de Defesa:

  • Nulidade do Lançamento: Falta de notificação válida (CTN, art. 142).

  • Exclusão do Crédito: Pagamento indevido comprovado por extrato do CNIS.

9. Tributação Internacional: Nexus e Preços de Transferência

Transfer Pricing (Lei 12.715/2012):

  • Métodos de Preços: PIC, PVA, CPL e outros, com ajustes conforme OECD Guidelines.

  • Penalidades: Multa de 0,5% a 20% sobre a diferença apurada.

Controlled Foreign Company (CFC):

  • Tributação de lucros acumulados no exterior por empresas controladas (art. 75, ADCT).

Tratados Internacionais (OCDE/ONU):

  • Redução de Alíquotas: Ex: IRRF sobre royalties reduzido de 15% para 10% em países signatários.

10. Compliance Tributário: Modelos de Gestão de Riscos

Programas de Integridade (Lei 12.846/2013):

  • Due Diligence Fiscal: Mapeamento de passivos ocultos em aquisições empresariais.

  • Auditorias Periódicas: Verificação de aderência às práticas contábeis (CPC 47).

Tecnologia e Automação:

  • Blockchain para Notas Fiscais: Validação de autenticidade em tempo real (Projeto SPED Blockchain da RFB).

Conclusão Estratégica:
A complexidade do sistema tributário brasileiro exige análise interdisciplinar (técnica, jurídica e contábil), com monitoramento contínuo de:

  • Alterações legislativas (ex: Reforma Tributária PEC 45/2024).

  • Jurisprudência do CARF e Tribunais Superiores.

  • Práticas de compliance alinhadas às exigências da OCDE.

Empresas que negligenciam essa profundidade analítica enfrentam exposição a passivos multimilionários, além de restrições em operações de M&A e acesso a crédito. A assessoria tributária deve ser proativa, não apenas reativa.